quarta-feira, 4 de maio de 2011

Polícia Federal investiga falsa idade para o futebol

A Polícia Federal desencadeou na manhã de ontem, em Juazeiro do Norte, a Operação Peter Pan, cumprindo sete mandados judiciais contra empresários, dirigentes de futebol, atletas e familiares acusados de falsear documentos. O material era usado para mascarar a idade dos jogadores. Assim, os atletas poderiam atuar por categorias menores e com um desempenho acima da média - os chamados "gatos" no jargão futebolístico. Este fator também contribui para que as cotações dos jogadores no mercado se tornem maiores. Alguns deles chegaram a fazer testes na Espanha.
Não é descartada a hipótese pela PF de que muitos desses jovens, com documentação falsa, possam estar jogando em clubes europeus e tenham passado pelo mesmo esquema. Foram apreendidos passaportes, registros de nascimento, Cadastros de Pessoa Física e carteiras de identidade, que falseiam não só a idade, mas até o nome dos próprios jogadores. As famílias de três jogadores investigados foram indiciadas.
Nas ´barbas´ da PF
Segundo delegado da PF, Tarcísio Abreu, que comandou a operação na cidade, as investigações foram iniciadas a partir de informações de que os jovens atletas estavam tirando os passaportes na própria delegacia da PF, usando documentos falsos. Os nomes de três jogadores foram apontados, inicialmente. Nem todos estão sendo divulgados, mas apenas um tem idade inferior a 18 anos. Wandemberg Silva Félix, de 20 anos, o Vandinho, foi negociado como Wandemberg Henrique Félix, de 16 anos, conforme as duas documentações em poder da PF. Ele é um dos envolvidos. O jogador já teria atuado no Sub-16 do Fortaleza e passou uma semana na Espanha junto com outros três atletas.
Os três jogadores utilizaram os documentos falsos ano passado, em viagem à Espanha. Durante uma semana, realizaram testes no país europeu. Os adolescentes começaram a atuar, conforme o delegado, na escolinha de futebol CT Cariri, sob a responsabilidade de Moisés Silva, um dos indiciados. A escola, de acordo com Tarcísio Abreu, fornecia certidões de nascimento falsas para os jogadores, diminuindo a idade dos atletas. Caso fossem da categoria de 16 anos, eles jogavam no Sub - 13, como se tivessem 12 ou até 13 anos. "Logicamente, esses jogadores se destacavam em relação aos outros", ressalta.
Os atletas que estiveram na Europa em abril de 2010 também passaram pelo Fortaleza, como jogadores das categorias de base, mas, salienta o delegado, com idade adulterada. "Eles já estavam no Fortaleza quando foram para a Espanha", diz. Tarcísio Abreu afirma que, no momento, nenhum dos três jogadores está atuando. Mas devem aguardar propostas de outros times. Todos os jogadores confessaram na polícia a trama e os pais dos atletas, diz Abreu, também sabiam e foram indiciados.
Além de Moisés, foi indiciado pela polícia Cícero Narcélio dos Santos, atual gerente de futebol do Icasa, procurado na manhã de ontem no CT Praxedão.
Indiciados
Os atletas e os pais foram indiciados por formação de quadrilha, uso de documento falso e falsidade ideológica. Eles usaram os documentos falsos para a expedição dos passaportes. Os três passaportes apreendidos serão cancelados, por serem ideologicamente falsos.
Moisés e Narcélio negaram qualquer participação no caso, mas foram indiciados por crime de falsidade ideológica e formação de quadrilha. O delegado disse que mesmo sem a colaboração de ambos nas investigações, quanto à origem das certidões de nascimento, está tentando agora descobrir como é feita a falsificação desses documentos e se há a participação de cartórios da cidade.
O delegado Tarcísio Abreu acredita que possam haver muito mais casos semelhantes e com jovens, inclusive, que estariam jogando em outros países. Mas, tal informação só poderá ser confirmada ou não no decorrer das investigações.
Mandados
De acordo com o delegado Tarcísio Matos, foram cumpridos os mandados na casa de quatro atletas e no Juazeiro Empreendimentos Esportivos, assim como na casa do dirigente e empresário Kleber Lavor
Sandro Hiroshi
Em 1999, foi descoberto que Sandro Hiroshi, então jogador do São Paulo, tinha sua certidão de nascimento adulterada. Ainda no Americana, a alteração ocorreu em 1994 para que o atleta pudesse participar de um campeonato juvenil
Clodoaldo
O atacante Clodoaldo, do Ceará, não escapou de envolvimento em caso de adulteração de documento. Em 2000, ele foi punido em 29 dias por ter adulterado a sua idade e ficou de fora da decisão de 2000
EMPRESÁRIO
Lavor se exime de qualquer culpa
Entre os investigados pela operação Peter Pan, o empresário Kléber Lavor afirmou que nenhum dos jogadores citados tiveram ou têm vinculo com ele, o Guarani (J) ou Juazeiro Empreendimentos Esportivos, clubes pelos quais Lavor exerce a função de diretor de futebol e proprietário, respectivamente. "O que eu sei é que a polícia pegou alguns documentos de atletas do Juazeiro na minha casa lá no Cariri", explicou o empresário. Segundo ele, todos os 104 jogadores que pertencem ao Juazeiro se encontram legalizados junto à CBF.
De acordo com o representante da PF em Juazeiro, Tarcísio Abreu, "até o momento, não tem nenhuma acusação contra ele (Kléber)". Abreu informou ao Diário do Nordeste Online que, os mandados foram cumpridos na casa do empresário pois, anteriormente, ele teria tido relações com o CT Cariri.

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