Não são as reclamações dos jogadores que mais incomodam o árbitro Ronaldão. São os pedidos para levar cartão. Isso, você leu certo. Para LEVAR cartão.
– Todo jogo tem um cara que diz: ‘Meu filho está olhando, vou fazer uma falta. Você me dá um cartão?’
Os cartões de Ronaldão viraram um show nos campeonatos de bairro de Manaus. Ele ganhou fama na cidade graças ao amarelo e ao vermelho tamanho GG usados nas partidas. As peças foram feitas por ele, com um plástico duro para não quebrar. Medem 20 por 30 centímetros e costumam arrancar gargalhadas quando mostradas aos jogadores. E onde ele carrega esses cartões, você já deve estar se perguntando. O árbitro fez bolsos especiais na parte de trás das bermudas. Mediu certinho para não se atrapalhar na hora de sacar. Depois, treinou dezenas de vezes para tirar e colocar rápido.
– Ele já apitou com cartões normais, mas estava cabisbaixo. Aquilo é a energia dele – diz Marco Canídia, presidente da Associação Independente dos Árbitros do Amazonas.
A ideia de fazer cartões gigantes surgiu em 1996. Um jogador que recebeu amarelo perguntou cinco vezes se a punição era para ele.
– Fiquei irritado. Será que o cara é cego? Por isso fiz um cartãozão.
Ao contrário do que todo mundo pensa em Manaus, Ronaldão não ganhou esse apelido por ter quase 100 quilos distribuídos 1,80 metro de altura. Nem Ronaldo ele é. O nome dele é Antônio Roberto Pereira da Silva. Virou Ronaldão porque quando jogava futebol usava o cabelo com corte quadrado em cima, como o ex-jogador do São Paulo e da Seleção. Mas largou a bola 15 anos atrás quando ouviu de um dirigente que o juiz de um jogo disputado por ele estava comprado.
– Fiquei muito revoltado com aquilo. Disse para mim mesmo que estudaria para ser um bom árbitro – conta o juiz, que durante a semana trabalha como digitador em uma Delegacia de Polícia.
Ronaldão procurou um livro de regras e estudou sozinho. Começou a apitar peladas até ser chamado para campeonatos amadores. Fez curso de arbitragem há três anos para “lapidar” o conhecimento.
Aos 41 anos, o juiz está famoso na capital amazonense. Sonha agora em passar dos campeonatos de bairros para o Peladão, considerado o maior campeonato amador do mundo. Apesar da brincadeira dos cartões, Ronaldão é um árbitro rigoroso. Não admite deslealdade e se diz intransigente com as tentativas de suborno.
– Quando comecei a apitar, ofereceram R$ 300 para favorecer um time. Discuti com o cara. Às vezes ainda aparece algum engraçadinho, mas agora as pessoas já me conhecem. Podem até falar dos meus erros, mas jamais poderão falar da minha ética – orgulha-se.
Pai de três filhos (de seis, quatro e dois anos), o árbitro só recebe reclamação em casa porque nunca está com a família sábado e domingo. Apesar que nos últimos tempos a mulher parou um pouco de se queixar.
– Agora eu estou famoso. Ela fica orgulhosa de me ver no jornal. Até parou de reclamar – diverte-se o juiz-sensação.
Fonte/Lancenet
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