No meio do ataque, Jorge, o Demolidor, imenso centroavante de 22 anos trazido do São Cristóvão por indicação do meia-armador e maestro Danilo Menezes, que o conhecia dos confrontos contra o seu Vasco da Gama. Demolidor, alto e hábil, conquistou a torcida. Marcou dois gols na final contra o América em 12 minutos de jogo. Foi o artilheiro da famosa turnê com 10 gols.
O ABC, que estava suspenso do campeonato brasileiro por ter escalado três jogadores irregulares no Nacional de 1972 – Nilson Andrade, Rildo e Marcílio e passou 102 dias peregrinando pelo Velho Continente e a África.
Empatou com a Romênia(1X1), base da equipe que enfrentou o Brasil tricampeão mundial de 1970 no México. Gol de Jorge Demolidor. Ganhou de equipes do ainda incipiente futebol africano dando autênticos shows. Duelou na Grécia contra o Panathinaikos. Esteve em Sarajevo, na Iugoslávia, depois devastada por uma sangrenta guerra civil.
Jorge Demolidor puxava as batucadas. Enquanto seus companheiros choravam de saudade das suas famílias. Fez tanto sucesso que, na volta, o Flamengo se interessou pelo seu futebol. O ABC, que tinha cartolas de amor e gana, Bira Rocha, Zeca Passos, Agnelo Alves, Zé Prudêncio e Aluizio Bezerra, comprou seu passe por 100 mil cruzeiros, uma fortuna.
Demolidor ficou para vestir a camisa 9. Foi emprestado com Alberi para o Rio Negro e lá foi artilheiro do time de Manaus no campeonato brasileiro de 1974. Voltou ao ABC em 1976 para uma breve passagem, foi campeão e vendido ao Botafogo da Paraíba, também goleador e colecionador de taças.
Jorge Demolidor foi um centroavante competente. Conhecedor da área. A torcida fazia a sua propaganda verdadeira, sem falso marketing. Veterano, em 1985, Jorge Demolidor retornou ao ABC e marcou 11 gols no Campeonato Brasileiro, um deles, de sem-pulo na estreia contra o Paysandu, Machadão entupido de gente no empate em 1x1.
Além de brilhar com sua própria luz, Jorge Demolidor deu de presente ao ABC uma joia de talento. Seu irmão, Zezinho, finesse de craque no meio-campo, hábil, inteligente, finalizador. Sucessor de Danilo Menezes, terminou Rei no América de Minas Gerais e vendido ao futebol português.
O destino fez Jorge Demolidor ficar em Natal. Cidade que atrai e costuma trair. Parou de jogar, foi atuar em partidas de veteranos e, por muitos anos, tomou conta das escolinhas do ABC. Era bonito, nos intervalos de jogos no Machadão, ver Jorge Demolidor ensinando fundamentos a meninos pobres sob os aplausos da Frasqueira.
Demitiram Jorge Demolidor. Começava a fase da invasão dos empresários nas categorias de base transformadas em bancos de sangue, em caixa de fortuna para vigaristas. Empresário de futebol significa mais ou menos o disfarce bondoso de Dom Vito Corleone em O Poderoso Chefão: Dono de fábrica de azeite de oliva. Jorge Demolidor ruiu na vida. Está em processo de demolição e degradação humana.
O melhor goleiro da história do ABC, Hélio Show, seu companheiro em 1976, ainda é o corajoso e desbocado de sempre. Me telefonou cedo, revoltado: “Rubinho, tenho uma péssima notícia para lhe dar.” Pensei em morte,que tem sido tão banal para mim nos tempos atuais.
Foi tão ruim ou semelhante. Jorge Demolidor, vítima de alcoolismo, doença terrível, mora sozinho num quitinete no Conjunto Pajuçara, na Zona Norte de Natal. Está fazendo bico de servente de pedreiro ganhando 30 reais por dia, quando arranja serviço. É assim que consegue se alimentar.
Hélio Show procurou o Sindicato dos Atletas. Hélio Show me disse que o Sindicato dos Atletas afirmou nada saber do assunto. Não me perguntem se a resposta teria sido igual em caso de dívida trabalhista.
Fonte/EdmoSinedino
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