Reuters
Gavião Kyikatejê
As empresas têm empreendimentos importantes na aldeia Gavião, localizada a cerca de 450km (por avião) de Belém. A Vale possui a estrada de ferro Carajás, que sai da cidade homônima até o porto de São Luiz, no Maranhão. Já a Eletrobras tem no local uma linha de transmissão de energia.
Para usar o espaço dos indígenas, elas devem pagar indenizações à associação que coordena as 16 aldeiras da Terra Indígena Mãe Maria. Os recursos são usados pelos habitantes locais prioritariamente em melhorias na agricultura, saúde e educação, mas também no esporte e em projetos culturais.
"Com os recursos da Vale e da Eletrobas, é feito investimento em várias áreas, inclusive no esporte. O dinheiro é usado tanto no futebol quanto em outras modalidades, como aquelas que só são praticados pelos índios", explica o técnico do Gavião, Vítor Jaime.
A Vale, inclusive, deseja sucesso ao caçula da elite do futebol paraense: "O acordo [entre empresa e índios] prevê apoio a projetos produtivos (atividades agrossilvipastoris), além do apoio à saúde, educação e vigilância territorial. Quanto às atividades relativas ao futebol profissional, a Vale faz votos de muito sucesso para o time Gavião Kyikatêjê FC", escreveu a assessoria da empresa ao ESPN.com.br.
Com isso, o time da aldeia conseguiu atingir a estabilidade financeira e se acertar com uma folha salarial que gira em torno de R$ 120 mil - muito pouco perto de Paysandu e Remo, os grandes do Estado, que chegam a gastar R$ 1 milhão por mês. Apesar do dinheiro do aluguel, o presidente do clube, Zeca Gavião, diz que tem que "suar a camisa" para bancar a equipe.
"Eu procuro de toda forma não deixar o pagamento atrasar. Se precisar, faço até empréstimo. Se a gente tivesse um patrocinador forte, era mais viável, mais seguro, porque a gente teria com quem contar. Só temos patrocinadores menores, mas que nos ajudam bastante, somos muito gratos. Com um pouco daqui, um pouco dali, a gente vai se virando", diz.
Com o caixa em dia, o Gavião quer arriscar voos mais altos. O técnico Vítor Jaime vem sentindo falta de um centroavante de ofício e recomendou a contratação de um reforço "internacional": o atacante Flávio Carvalho, que já rodou por várias equipes do interior de São Paulo e vinha jogando pelo América de Cali, da Colômbia. Segundo o treinador, porém, é difícil convercer os locais a aceitar um jogador sem que antes ele passe por uma rigorosa avaliação da tribo.
"Eles são muito desconfiados, querem sempre ver o jogador treinar primeiro para ver se presta. Eles querem ver pra crer, porque por aqui já passou muita gente que enganou, falou que jogava muito e no final não jogava nada. Mas jogador não quer vir aqui ficar treinando cinco dias pra eles verem, quer logo assinar um contrato", contou o treinador.
Apesar de ter sido fundado na aldeia, o time possui só quatro jogadores indígenas no elenco. O presidente Zeca Gavião, contudo, sonha em ver, em breve, uma equipe formada apenas por índios.
"Acima do time, penso na questão dos indígenas, da identidade. Daqui a quatro, cinco anos, a gente quer ter pelo menos 70% de jogadores indígenas na equipe", discursa.
O elenco ainda não venceu nenhuma partida na temporada, o que colocou o time na zona da degola, com cinco pontos em sete jogos. No segundo turno, a esperança é reagir e terminar entre os quatro primeiros, avançando para a próxima fase. Confiante, o técnico Vítor Jaime faz promessa: "Vou deixar esse clube na elite do Paraense. Isso eu garanto".
Os torcedores indígenas, como manda a tradição, desconfiam...
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