- Corinne Diacre, do Clermont, em partida contra o Istres pela Copa da Liga francesa
Na semana passada, alguns dias depois de conseguir a sua primeira vitória em seis jogos no campeonato, Corinne perdeu a mãe, que morreu inesperadamente enquanto a filha se preparava para mais uma sessão de treinamento. Ela não foi ao treino e nem ao jogo do fim de semana seguinte, quando o Clermont, com um auxiliar técnico no comando, empatou fora de casa.
Idriss Saadi, o artilheiro do time, fez dois gols e dedicou o último à treinadora, que se recuperava de sua tragédia particular. Aos poucos, Corinne vem ganhando o carinho e o respeito do elenco, depois de superar a desconfiança e preconceito de jogadores pouco acostumados a receber ordens de mulheres.
"No começo, claro que foi um pouco estranho", reconheceu Saadi, que começou a trabalhar com a treinadora no início da temporada. "Mas com mais tempo, nos acostumamos e agora é como se tivéssemos um técnico homem. Ela fala quando tem que falar, grita quando tem que gritar e nos elogia quando tem que fazer isso."
A primeira impressão do meio-campista Thibault Moulin também foi de estranhamento. "Meus amigos começaram a perguntar se ela é respeitada. E a resposta é sim, ela tem autoridade", afirmou. O auxiliar técnico Jean-Nöel Cabezas, que trabalha no clube há 14 anos, percebeu que os jogadores parecem mais "atentos e disciplinados" sob o comando de Corinne. "E o vestiário nunca esteve tão organizado", disse ele.
No dia em que entrou na história do futebol europeu e estreou pelo Clermont, Corinne recebeu flores e um beijo do técnico adversário antes do jogo. Durante ele, nenhuma condescendência: seu time perdeu por 2 a 1, uma derrota ainda mais frustrante porque a partida atraiu boa parte da imprensa nacional.
Apesar de seu pioneirismo (são raríssimos os casos de mulheres comandando times masculinos no futebol mundial), a treinadora tem evitado falar sobre o assunto. "O que importa pra mim é que eu sou uma treinadora", disse ela ao site da Fifa. "Eu não penso muito no fato de que sou a primeira mulher com um time masculino. Se eu fosse a treinadora de um time feminino, para mim seria igual."
Mais recentemente, em entrevistas coletivas, se o tema vem à tona, ela se recusa a lhe dar prosseguimento. A reportagem do UOL Esporte tentou conversar com ela e recebeu uma educada recusa do departamento de imprensa do Clermont: "Ela agora quer se focar no aspecto esportivo, na preparação para os treinos e partidas."
Resistências
O que torna a experiência do Clermont tão inusitada é que Corinne Diacre não foi a primeira tentativa da diretoria de ter uma treinadora mulher. Ela chegou em substituição à portuguesa Helena Costa, uma técnica quatro anos mais jovem, que é apelidada em seu país de "Mourinho de saias".
No entanto, essa primeira experiência foi uma decepção enorme. Helena foi contratada durante a intertemporada, mas entregou o cargo antes mesmo de conhecer o elenco. Ela acusou "falta de respeito e amadorismo" na diretoria, que a teria alijado de decisões sobre contratações.
Com passagens no comando de seleções nacionais femininas e times portugueses masculinos, ela disse ao UOL Esporte que "uma mulher no comando sempre vira alvo de resistências."
"É normal que se crie resistência em torno do seu trabalho", afirma ela. "Fui a primeira treinadora a comandar um time masculino de sêniors, cria-se uma resistência, fui a primeira mulher a treinar um time masculino de uma universidade, cria-se resistência, sou a primeira mulher a se destacar como comentarista de TV, cria-se resistência. Mas é uma questão de você mostrar seu trabalho e tentar mudar essa mentalidade."
O trabalho de Corinne, apesar de ter começado com alguns resultados ruins, tem o apoio de torcedores e do presidente do clube. Após a conturbada demissão de Helena, Claude Mitchy disse ter recebido dezenas de currículos de homens para o cargo, mas fez questão de escolher uma mulher. O cartola diz acreditar que, se elas têm ganhado cada vez mais espaço em postos de comando no mundo dos negócios, por exemplo, têm tudo para conseguir o mesmo no futebol.
Fonte/JornaldeHoje
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