Grave doença tem se manifestado em ex-atletas devido ao uso inadequado de seringas no passado
Félix, Paulo César Caju e Jairzinho são alguns dos ex-jogadores que aderiram à campanha que pretende conscientizar outros ex-atletas sobre os perigos da hepatite C.
Foto: Divulgação
Manaus - Doença com cerca de 2 milhões de infectados no Brasil, a hepatite C é conhecida pela maneira ‘sorrateira’ de evoluir por décadas dentro do corpo humano sem apresentar nenhum tipo de manifestações clínicas. O que muitos não sabem é que, deste número, muitos são ex-atletas em atividade entre as décadas de 1960 e 1990, principalmente ex-jogadores de futebol, que passaram a ser considerados um grupo de risco para o desenvolvimento da doença.
Foi apenas no início da década de 1970 que se iniciaram as substituições das seringas de vidro e agulhas reutilizáveis pelas seringas e agulhas descartáveis usadas atualmente. Até então, era comum que atletas, e a população em geral, compartilhassem injeções de complexos vitamínicos, estimulantes e remédios para gripe, em aplicações feitas em farmácias por todo o País com seringas submetidas a fervuras que não eliminavam o vírus da hepatite C.
O ex-jogador de futebol amazonense Iane Géber, com passagem por clubes como Nacional, Rio Negro e Fast entre 1969 e 1989, chegou a testemunhar algumas destas práticas durante sua carreira. “Quando fui jogar no Nordeste, em clubes de baixa estrutura, era bem comum ver jogadores injetando compostos na veia. Aqui, no Amazonas, felizmente, todos os clubes pelos quais eu passei eram bem cuidadosos. Tínhamos bons cuidados médicos e uma boa estrutura de trabalho, então não havia tanto a necessidade de injetar suplementos ou energéticos para melhorar o condicionamento físico”, relatou.
Na década de 1980, Iane chegou a ajudar um colega de time, de quem é amigo próximo até hoje, que havia descoberto estar com o vírus causador da hepatite C, o VHC. “Lembro que, no começo, ele deu uma sumida. Os outros jogadores do clube até acharam estranho. Só depois descobrimos que ele teve que buscar tratamento médico para hepatite”.
O médico hepatologista, pesquisador e membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), Dr. Raymundo Paraná, ressaltou que, na época, a prática não só era comum como também era legalizada. “Estes atletas faziam infiltrações para jogar ou usavam complexos vitamínicos na veia. Usavam também um estimulante chamado Guiconergan. Mas nada disso era ilícito, até porque eram prescritos por médicos. Naquela época, a hepatite C ainda não era conhecida”.
Segundo Dr. Paraná, o número de infectados no Brasil corresponde a 1% da população, mas na região da Amazônia ocidental, que engloba os Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, a situação é ainda pior.
“Estudos mostram, nesta região, 3% de prevalência do vírus, ou seja, três vezes mais que o restante do País. Portanto, a Amazônia, que já era conhecida pela elevada prevalência das hepatites B e Delta, passa a ser uma área também de elevada prevalência para Hepatite C. Por isso, é altamente recomendável que todas as pessoas com mais de 40 anos façam o teste para detectar o vírus VHC”, alertou.
Com base nos dados apresentados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a SBH criou, em 2010, em parceria com a Federação das Associações de Atletas Profissionais (Faap), uma campanha de alerta direcionada a ex-atletas, que, já no primeiro ano, recebeu o apoio dos tricampeões mundiais da Seleção Brasileira de 1970 Jairzinho, Félix e Paulo César Caju.
Fonte/D24h
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