O ex-jogador de futebol e hoje deputado estadual Mário Jardel (PSD) demitiu praticamente todos os servidores lotados em seu gabinete e na bancada do partido na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, onde ele é o único parlamentar do PSD. Após a exoneração coletiva, Jardel entrou em licença de saúde por um período de 10 dias. De acordo com seu novo chefe de gabinete, Cristian Lima, o ex-jogador foi ameaçado e recebeu orientação de seu “jurídico pessoal” para tomar a decisão de “desaparecer temporariamente”.
“O deputado está atestado, incomunicável, para o bem de sua segurança física e mental. Não tenho como dizer onde ele está por motivos de segurança e retaliação. Houve ameaças de várias pessoas, inclusive de alguns desses dirigentes que foram exonerados. Ameaças gravíssimas, tanto de cunho pessoal, como de imagem, e até à família dele”, declarou Lima ao Terra nesta segunda-feira (06).
As exonerações – 16 no total, entre servidores lotados no gabinete e na bancada e mais a dispensa da função gratificada de um servidor cedido – aconteceram na quarta-feira (1º) que antecedeu o feriado de Páscoa, quando Jardel também viajou. Apenas quatro servidores antigos permaneceram nos cargos. Além disso, dois novos estão no gabinete e na bancada a partir desta semana. As exonerações estão publicadas no Diário Oficial da Assembleia desta segunda-feira.
Questionado sobre o que motivou a exoneração coletiva e o afastamento por licença de saúde, o novo chefe de gabinete de Jardel revelou que ele estava descontente com a atuação dos funcionários, e que não tinha acesso ao encaminhamento de várias questões referentes ao exercício do mandato como, por exemplo, o controle de diárias.
“Só pediam para ele assinar. Tinha um funcionário, inclusive, que responde a processo por corrupção. O deputado não tinha como trabalhar com essas pessoas, que não foram indicação dele, foram indicações do partido e de lideranças partidárias”, afirma Lima.
Sobre quem seria o servidor que “responde a processo”, o chefe de gabinete disse que bastaria uma busca rápida entre os exonerados para fazer a identificação. Outro assessor, porém, revelou que o servidor em questão seria Marcos Aurélio Chedid. Chedid, que integra a executiva estadual do PSD, exercia cargo em comissão (CC) como chefe de gabinete de líder de Jardel e está entre os exonerados. Em dezembro do ano passado, ele foi um dos denunciados – por corrupção – pelo Ministério Público Federal na primeira lista resultante das investigações da Polícia Federal na Operação Concutare. A Concutare investigou um esquema de pagamento de propinas para liberação de licenças ambientais no Rio Grande do Sul.
Durante a corrida eleitoral de 2014, Chedid era identificado como assessor de campanha do hoje vice-governador do Estado, José Paulo Cairoli (PSD), que também é presidente estadual do partido. Alguns anos atrás, ele foi também secretário de Preservação Ambiental na cidade de Canoas, durante a administração de Marcos Ronchetti (PSDB), que foi prefeito de 2001 até o final de 2008.
Em 2012, Chedid e Ronchetti chegaram a ser condenados em primeira instância a devolver valores ao erário municipal. Mas recorreram ao Tribunal de Justiça, que acatou o recurso, julgando a ação improcedente.
Outros dois integrantes da executiva estadual do PSD também foram exonerados por Jardel. O Terra entrou em contato com as assessorias de Cairoli e do vice-presidente do PSD gaúcho, o deputado federal e ex-goleiro do Grêmio, Danrlei de Deus Hinterholz, para buscar um posicionamento a respeito do caso.
A assessoria de Cairoli não retornou a solicitação até o fechamento da matéria. A assessoria de Danrlei informou que ele passará o dia de hoje em trânsito e só se manifestará a partir de amanhã. Nesta tarde, Danrlei divulgou uma nota onde fala em rompimento político e pessoal com Jardel, mas não expressa a posição do partido.
O Terra também procurou por Chedid. Familiares do dirigente informaram que ele só vai falar sobre o assunto após uma manifestação oficial de Jardel sobre o caso. Sobre a Concutare, o advogado e irmão de Chedid, Jarel Chedid, informou que o processo está em fase preliminar e a denúncia, recebida em dezembro, em fase de análise.
Ele disse ainda que Chedid não foi alvo das investigações e que a inclusão de seu nome ocorreu a partir de uma ligação dele para um ex-sócio, no qual teria sido mal interpretado.
Ídolo da torcida do Grêmio nos anos 90, Jardel deixou o clube gaúcho em 1996 para uma carreira internacional que se estendeu até meados dos anos 2000. A carreira, contudo, entrou em declínio a partir de 2003 e diversas tentativas de retomada acabaram não vingando. Em entrevistas, revelou ter enfrentado problemas com o uso de drogas e depressão. Aposentou-se em 2011. Em 2014 elegeu-se deputado estadual pelo PSD gaúcho, com 41.227 votos.
Fonte/Terra
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