Carrasco do Flamengo na vitória do Fortaleza por 2 a 1, na última quarta-feira, em Volta Redonda, o volante Pio tem nome de herói da mitologia grega. Francisco Hércules de Araújo, de 28 anos, vem matando um leão por dia no clube cearense, que fará sua estreia na Série C do Campeonato Brasileiro, na próxima segunda-feira, contra o River, do Piauí, no Castelão. E já garantiu seu nome na história da Copa do Brasil, com os dois gols que eliminaram o Flamengo da competição.
Com salário de aproximadamente R$ 30 mil, o agora famoso Pio ganhou o apelido ainda na infância pobre, quando a mãe, Antônia Lidoína, uma humilde empregada doméstica, tinha pressa em ver seu bebê falar as primeiras palavras.
- Não é possível! Esse menino não dá um pio – reclamava.
O garoto cresceu, torceu pelo Flamengo, rodou o Brasil, bateu uma bola em Portugal, quase viu a carreira ser vencida pelo alcoolismo e, agora, é ídolo em Fortaleza. E vilão para a torcida do Flamengo.
- Aos 18, 19 anos, eu tinha que tomar três cervejas para conseguir dormir. O que ganhei, gastei – lembra o volante-artilheiro do Fortaleza, clube de uma modesta folha salarial no valor de R$ 600 mil.
CARREIRA - Comecei no salão, aos 11 anos, na AABB. Fui para o campo aos 13, para o Estação Antônio Bezerra. Em 2004, fui aprovado em uma peneira do Corinthians e cheguei a treinar com o profissionais durante as passagens do Antônio Lopes e o Leão. Passei por Sporting e Gil Vicente, de Portugal, Grêmio, Aracati-CE, Treze-PB, ABC-RN, Mirasol-SP. Há um ano e cinco meses estou no Fortaleza. Sou bicampeão cearense. Tenho dez títulos na carreira.
ALCOOLISMO - Fiquei um ano desempregado, de agosto de 2008 a agosto de 2009. Só queria saber de festa, noitada, bebida. Aos 18, 19 anos, eu tinha que tomar três cervejas para conseguir dormir. O que ganhei, gastei. Não queria saber quanto ia ganhar. Quando me dei conta, já tinha ido tudo embora. Aí, em 2009 decidi largar tudo e seguir outro caminho. As coisas começaram a acontecer. Estou há seis anos sem tomar uma gota de álcool.
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VOLANTE-ARTILHEIRO - Em 2014, fiz 14 gols. Em 2015, fiz nove. A forma como bato na bola é um dom que Deus me deu. As pessoas perguntam: “Como esse magrinho consegue chutar assim?” Estou construindo uma história.
SONHO - Meu maior sonho eu conquistei: larguei a bebida e dou uma vida melhor para minha mãe (Antônia Lidoína). Somos seis irmãos, tive infância pobre, ela trabalhava como doméstica. Tenho esposa (Luiza) e um filho, Caíque.
FLAMENGO - Para deslanchar, toda equipe precisa de entrosamento. O Flamengo ainda não encontrou esse entrosamento. Os jogadores são qualificados. E tem mais: qualquer um fica motivado quando vai enfrentar o Flamengo.
INSÔNIA - Estou acordado até agora. Não foi pelos gols, mas pelo jogo. É muita adrenalina.
MÁGOA - A imprensa não valorizou a classificação do Fortaleza. Falou que a eliminação do Flamengo foi precoce. É sempre assim. Time pequeno nunca tem seus méritos. Mas, as pessoas já estão olhando o Fortaleza de uma forma diferente. O respeito voltou.
GUERRERO - Se eu falar que a ausência dele não foi ruim para o Flamengo, estou mentindo. No jogo na Arena Castelão, ele fez um gol. Um centroavante como ele com certeza estaria ali para fazer gol. Sem tirar os méritos do Fortaleza, a verdade é essa.
TIME - O pior é que eu gostava demais do Flamengo quando era garoto. Em 2001, vibrei muito quando o Pet fez aquele gol no 3 a 1 (sobre o Vasco). Mas em 2004 fui para o Corinthians e… Eu tinha um carinho enorme por esses dois clubes.
INVICTO - Eu nunca tinha enfrentado o Flamengo até esses dois confrontos pela Copa do Brasil. Estou invicto contra o Flamengo.
APELIDO - Quando era criança, demorei muito a aprender a falar. Minha mãe dizia: “Não é possível! Esse menino não dá um pio”. Pegou.
CAMISA - Peguei a do Alan Patrick e do Everton. Mas não dei a minha. Vai ficar num quadro. Fazer dois gols contra o Flamengo é histórico. Só esqueci a bola. Quando fui procurar, já era.
CONTRATO - Tenho contrato até o fim de novembro. Todo jogador quer o melhor… Só penso no Fortaleza agora.
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