No dia 1º de setembro o Corinthians comemora 100 anos (leia mais na página 18). Um dos nomes mais importantes dessa história é o do paulistano Roberto Rivellino, de 64 anos, que defendeu o clube entre 1965 e 1974, e ficou conhecido como “Reizinho do Parque”, em referência ao Parque São Jorge, sede do clube. Na escola de futebol que possui em São Paulo, em meio a passarinhos (hobby que mantém desde a infância), o craque relembrou a conquista do tricampeonato mundial no México e comentou o momento atual da seleção brasileira. 1 – Como você analisa esses 100 anos do Corinthians? Temos que comemorar, dar os parabéns. O Corinthians estará eternamente em nossos corações, já são 100 anos de história. Agora a melhor comemoração seria a conquista da Libertadores. A proposta era essa e foram feitas grandes contratações. Mas o projeto não seguiu em frente e, por isso, o torcedor corintiano não está muito satisfeito. 2 – Como é estar na Calçada da Fama do Corinthians, mas não estar em “Todo Poderoso: O Filme – 100 anos de Timão”? Eu fiquei muito satisfeito e honrado pela maneira como fui recebido novamente no Corinthians. Passei anos maravilhosos no clube e tenho carinho especial por ele, que sempre abriu as portas para mim, inclusive na seleção. Foi algo muito bonito, que será guardado com carinho. Para o filme, cedi imagens, mas não disseram para dar depoimento, pois, se pedissem, daria. Na época, falaram que pedi dinheiro para participar, o que não é verdade. 3 – Como foi sua saída do time? Em 1974 (depois da perda da final do Campeonato Paulista para o Palmeiras) a crônica esportiva foi muito maldosa e criou um clima para eu sair. O (cronista) J. Hawilla até veio a público declarar que foi um dos responsáveis pela minha saída. E o então presidente Vicente Matheus “lavou as mãos” e não defendeu o maior ídolo da época. Eu nunca me imaginava fora dali, mas criaram um clima tão pesado e desagradável, inventaram tantas coisas a meu respeito, que não tive como não sair quando houve a oportunidade da venda para o Fluminense. 4 – Você foi mais feliz no Corinthians ou no Fluminense? Claro que se for falar em títulos, no Fluminense eu fui bicampeão carioca e campeão da Taça Guanabara, o que te traz felicidade e te marca mais em um clube. Mas, mesmo não conseguindo títulos no Corinthians, há carinho e respeito do torcedor corintiano. Tanto que, sempre que se fala em nomes do Corinthians, o meu aparece.5 – É verdade que, quando criança, você torcia para o Palmeiras? É. Eu jogava futebol de salão pelo Banespa e cheguei a ir treinar duas vezes no Palmeiras. Na terceira, o técnico Mário Travaglini, que depois me treinou no Fluminense, me botou de lado e disse que não ia dar pé. Em seguida acertei de ir treinar no Corinthians. Lá fiquei e aprendi a ter adoração pelo clube. Então, para mim, enfrentar o Palmeiras era sempre especial para mostrar que, mesmo ele não me querendo, eu me projetei. Só faltou mesmo a cereja do bolo, que seria ganhar o Campeonato Paulista de 1974, que acabamos perdendo. 6 – Como surgiram duas marcas suas, o “drible elástico” e a “patada atômica”? Esse chute forte é uma coisa que eu não sei explicar por que a bola sai mais forte e rápida. Agora o “drible elástico” realmente marcou, principalmente em função do gol que fiz pelo Fluminense contra o Vasco em 1975. Eu aprendi com o nissei Sergio Echigo, que jogou comigo no Corinthians. Hoje, é um motivo de satisfação ver o Ganso dar o elástico, assim como já vi Ronaldo, Kaká, Djalminha, Neto, Robinho e Ronaldinho Gaúcho darem o drible. 7 – Desde quando você adotou o bigode, que é outra marca sua? O bigode começou depois da Copa de 70. Na época todo mundo disse que ficou legal e eu resolvi deixar. Agora é uma marca e eu não me vejo mais sem bigode. Tanto que uma vez, sem querer, fui acertá-lo com uma maquininha elétrica, errei e ele ficou fininho, parecido com aquele bigodinho do Zorro. Horrível. Aí tive que arrancá-lo e quando fui no aeroporto buscar minha filha, que já estava casada, ela se assustou, pois nunca tinha me visto sem bigode. 8 – A seleção brasileira tricampeã na Copa de 70 foi a melhor equipe em que você jogou? Foi uma seleção maravilhosa, que encantou o mundo. Em todas as pesquisas que fazem, principalmente na Inglaterra, essa seleção é considerada a maior de todos os tempos. Essa seleção saiu do Brasil desacreditada e, no decorrer dos jogos, foi mostrando um grande futebol. Se houvesse mais jogos, acho que melhoraria cada vez mais. 9 – O que você achou da estreia de Mano Menezes à frente da seleção brasileira? É preciso ter calma. O Mano está iniciando o trabalho, mas tem potencial. Não é de graça que um treinador fica 3 anos no mesmo time, ainda mais no Corinthians. Realmente ninguém esperava estreia como a dele, mas, de repente, ele montou uma seleção com toque de bola inteligente e jogadores sem posição fixa. O jogo era mais de movimentação. Foi realmente bonito. E o mais importante: resgatou nossas raízes. 10 – Você acha que há reconhecimento no Brasil para os ídolos do passado? No Brasil, as pessoas têm memória curta e poucos ídolos são lembrados. Muitas vezes não há respeito ao ídolo, como acontece fora do país. Pelé teria uma estátua se fosse norte-americano, francês, italiano. Comigo também o respeito é maior fora do Brasil do que aqui. Até para dar uma entrevista, lá o cara te respeita e pergunta a que horas você quer ser entrevistado.
Fonte/FolhaUnmiversal
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