domingo, 29 de janeiro de 2012

Memória Esportiva: Xerifão Piaba campeão na década de 60 pelo ABC



Entre os mais antigos, Piaba é uma lenda viva. Pelas ruas e travessas do bairro das Rocas, então, não há quem não diga que aquele extrovertido senhor, hoje com 73 anos, foi um dos maiores defensores do futebol potiguar. Não seria para menos, afinal o "xerifão" Piaba conquistou para o ABC nada menos que cinco títulos na década de 60, ficando conhecido pela raça e a determinação com que vestiu a camisa alvinegra durante mais de uma década.

É raro encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar de Piaba. O lendário zagueiro era conhecido como carrasco dos homens de frente do América, Alecrim e demais times que duelavam com o ABC naqueles tempos. Pouca gente sabe, porém, que o capitão Piaba poderia ter jogado em uma posição totalmente diferente. Aliás, há quem jure que ele era tão bom como foi jogando de zagueiro: "Comecei como centroavante", conta Piaba.

Foi no Palmeiras das Rocas. Foi no início da década de 50, tempo em que o futebol daquele bairro, segundo os moradores, eramais atrativo que qualquer um outro. "Quando tinha jogo aqui ninguém ia para ver jogo lá em cima (Juvenal Lamartine, bairro do Tirol)", conta Piaba. O clássico entre Palmeiras e Racing era o ABC x América daquele tempo. Ainda infantil, Piaba era o centroavante, camisa 9, do Palmeiras. Foi nessa posição que ele chamou a atenção do América, por isso foi para o time rubro treinar na equipe infantil.

Não demorou muito e, em 1958, ele saiu para o Atlético Potiguar, mais conhecido como Atlético de João Machado. Foi lá, em um jogo contra o próprio América, que veio a mudança de posição. "Teve um dia lá que um zagueiro nosso estava machucado e faltou um zagueiro. Eu já estava com a camisa 9 nas costas, mas tirei e disse que ia jogar de zagueiro", conta. "O técnico quase endoidou quando eu disse que ia jogar na zaga, mas eu joguei", lembra.

Depois desse dia a camisa 9 ficou aposentada para Piaba e ele iniciou então sua saga como zagueiro. Do Atlético foi para o ABC. Lá marcou época ao lado de Calado, Cadinha e Jorginho, quem considera o maior jogador da história do RN. A década de 60 foi de sobra para o time, então, de Morro Branco. Foram cinco títulos, inclusive o pentacampeonato em 1962. A trajetória de Piaba no ABC terminou em 1970, quando ele foi jogar pelo América. De lá defendeu ainda Alecrim e Cosern (Força e Luz), onde encerrou a carreira no futebol em 1971.

"Nosso futebol está em decadência"


Piaba ao lado da esposa Arlete e da netinha Lana Laís no aconchego de sua casa, no alto das Rocas.
Piaba também teve uma experiência como treinador. Comandou o ABC em algumas partidas no ano de 1969 e foi campeão do Norte/Nordeste sob o comando da Seleção do Rio Grande do Norte. Funcionário de carreira aposentado pelos Correios, Piaba hoje está totalmente fora do futebol. Nas Rocas, todos lhe conhecem, mas ele prefere não se envolver com a prática esportiva no bairro que considera como um celeiro de atletas.

"Time de ABC e América tinha que ter pelo menos cinco das Rocas", conta. Na conversa com Piaba fica nítido o saudosismo pelo seu tempo de jogador. Ele diz que não tinha essa de salário, machucado ou cansaço. O negócio era jogar futebol. "Antigamente se jogava de graça. Se jogava por amor", comenta. "Não tinha essa de cansaço não", diz. Um tempo de tantas glórias, porém, não é tão valorizado, para Piaba.

Ele reforça o coro de uma grande parte dos personagens deste quadro Memória Esportiva. "Quem me conhece? Quem conhece Piaba?", indaga. "A gente tem que valorizar mais o que a gente tem", opina Piaba, que foi homenageado na festa de lançamento do Estadual 2012, mas fala em nome da memória de seus

contemporâneos. A falta de valorização, segundo ele, resultou no enfraquecimento do nosso futebol. Ele considera que os clubes não caçam mais valores, nem apresentam mais promessas.

O futebol do RN, na opinião de Piaba, não tem mais espaço para os futebolistas daqui. "Nosso futebol está em uma decadência enorme", diz. "Hoje os clubes não tem mais o prata da casa, o jogador daqui, que se criou aqui, como tinha antigamente", ressalta. Em contrapartida, ele lembra dos valores aplicados aos torcedores para o que é mostrado hoje dentro de campo. "R$ 30? Tem espetáculo para isso tudo não".

Fonte/DiáriodeNatal

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