Hoje doente, Ivan Limeira comprou imóveis no auge da carreira, mas perdeu tudo FOTO: ALCIDES FREIRE
Ivan Limeira tem boas recordações da época de atleta (na foto, pelo Guarany de Sobral), pois afirma que só fez amigos no futebol. Entretanto, falhas na administração da vida pós-futebol o deixou em dificuldades FOTO: REPRODUÇÃO/ALCIDES FREIRE
Viver no auge, com todos os afagos que os fãs, os dirigentes e a imprensa podem proporcionar pode ser uma armadilha para o atleta de futebol profissional, que muitas vezes, não administra a carreira como deveria. Ao se apagarem os holofotes do sucesso, normalmente o que resta são alguns dissabores e a realidade nua e crua, que muitas vezes, frustra e limita o ex-jogador.
Até mesmo procurando fazer a coisa certa, sem exageros, a vida desanda quando a bola para e aí restam apenas saudades. Assim vive o ex-jogador Ivan Limeira, zagueiro vigoroso dos anos 1970 do futebol cearense, que hoje convive com as sequelas deixadas por um AVC, enquanto espera que os amigos apareçam para um abraço.
"O que sinto falta é da minha esposa e de que algum amigo apareça na porta e pergunte como estou", desabafou, com a voz entrecortada pelo silêncio. A ex-esposa, Clarissa, e os dois filhos moram atualmente em Recife.
Carreira
Ivan Limeira é irmão do falecido Zé Limeira, torcedor símbolo do Ferroviário. Mas sua história no esporte começou mesmo no juvenil do Ceará. Depois, passaria por Fortaleza, Ferroviário, Guarany (S), Náutico, Maguary, Botafogo/PB, Guarapuava/PR e União de Rondonópolis/MT, entre outros times.
"Joguei no Bordeaux, da França. Fui também para a Ucrânia, mas não me adaptei ao clube, por encontrar uma temperatura abaixo de zero", relata.
Aos 64 anos, Ivan Limeira ainda lembra de muitos fatos de sua vida profissional, mesmo após ter sido acometido por um AVC no ano de 2005, o que o deixou numa cadeira de rodas.
Apesar de não ter sido um atleta habituado a noitadas, bebidas ou coisa que o valha, Ivan Limeira não conseguiu guardar alguma reserva que pudesse, hoje, lhe dar um segurança maior.
O ex-atleta vive com uma irmã, Vera Lúcia, que cuida dele e de uma parente de 97 anos, morando no bairro Damas, em Fortaleza. Ele não conseguiu se aposentar formalmente e é atendido na Santa Casa quando sua saúde está mais debilitada.
"Ganhei o suficiente para viver. Foi o que ganhei", diz, em tom decisivo, o ex-atleta.
Ivan tem um irmão que também foi zagueiro, Iran Oliveira, que não investiu na carreira de atleta porque foi servir ao Exército. Ele, que reside em Anápolis (GO), lembra que à época do auge Ivan comprou alguns apartamentos e terrenos, mas perdeu tudo. A luta agora da irmã Vera é conseguir que alguém lhe ajude na medicação.
Ciente dos problemas enfrentados por Ivan Limeira, o presidente da Associação de Garantia de Apoio ao Atleta Profissional (AGAP), Celso Gavião, diz que vai tentar ajudar Ivan Limeira da melhor maneira possível, providenciando o que estiver ao alcance da instituição.
Solimar e o outro lado da moeda
Solimar em seu restaurante no bairro de Fátima. Empreendimento mostra o resultado da previdência que teve ainda quando era atleta FOTO: NATINHO RODRIGUES
Solimar vestiu as camisas de Ceará, Ferroviário (foto) e Fortaleza FOTO: REPRODUÇÃO/NATINHO RODRIGUES
O outro lado da moeda em relação à situação de penúria que atinge boa parte dos ex-atletas pode ser observado com o ex-volante Solimar, hoje com 43 anos, ex-jogador de Ceará, Fortaleza, Ferroviário e Tiradentes, isso só na Capital cearense.
Solimar Luís Rossini, gaúcho de Porto Alegre, encarou a carreira de jogador profissional, mas sempre deixou espaço para o tino comercial, que ele acredita advir do seu pai, que exerce a mesma atividade profissional.
Além da visão empresarial, Solimar diz que o seu estilo de vida também o ajudou a ir pensando no futuro, mesmo enquanto estava atuando no futebol.
"Sempre levei uma vida regrada. Não era da noite. Dormia cedo e gostava de sair apenas com a minha família. Não era de sair com muitos amigos. O dinheiro, guardava apenas quando era possível, porque, dos três clubes em que atuei, apenas o Ferroviário conseguiu me pagar em dia. Os outros sempre atrasavam muito", revela.
"Na nossa época, não se ganhava o que se ganha hoje. Vejo que tem jogador no futebol cearense ganhando R$ 30 mil", completou o ex-volante, hoje dono do Restaurante Tronco do Gaúcho, situado no bairro de Fátima. Costumam frequentar o espaço também ex-atletas e fãs do jogador, além do público em geral, todos ávidos por provar do churrasco feito com esmero pelo gaúcho. "Muitos procuram jogar futebol porque, para alguns, os salários são altos e permite ao jovem humilde encontrar uma maneira de ascensão social. Mas tudo isso tem que ser bem administrado desde cedo", aconselha o ex-volante.
Para Solimar, o atleta também precisa ter nível de escolaridade para poder não apenas entender esquemas táticos como também programar seu futuro. "Em 97, joguei no Fortaleza com um atleta que era analfabeto".
Fonte/IVAN BEZERRA
Nenhum comentário:
Postar um comentário