quinta-feira, 13 de março de 2014

Gaúcho: Árbitro vítima de racismo teme represálias pela denúncia

 


Márcio Chagas encontrou seu carro amassado, riscado e com bananas no teto e no cano de escapamento


               
    A Federação Gaúcha julga nesta quinta-feira, a partir das 17h30, as ofensas racistas sofridas pelo árbitro Márcio Chagas da Silva no jogo Esportivo e Veranópolis na última quarta-feira e o fato de ele ter encontrado seu carro amassado, riscado e com bananas no teto e no cano de escapamento na saída do estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves.


Se for considerado culpado, o Esportivo, dono da casa, pode perder três pontos ou até ser excluído no Campeonato Gaúcho, em pena prevista no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. A delegada responsável pelo caso, Deise Ruschel, informa que já tem suspeitos, mas mantém os nomes em sigilo para não atrapalhar as investigações.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo, o árbitro Márcio Chagas afirma que espera uma punição exemplar em função da frequência com que os atos racistas acontecem no Campeonato Gaúcho. "Espero uma medida exemplar para o clube e também para os torcedores. Não quero me manifestar sobre a punição ideal, mas é hora de dar um basta. Chega de impunidade", disse o árbitro, que foi convocado para o julgamento juntamente com os auxiliares Marcelo Bertanha Barison e Antonio Cezar Domingues Padilha.
Márcio Chagas acredita que pode sofrer retaliações por ter denunciado uma prática que considera corriqueira. "Posso deixar de trabalhar por ter exposto uma situação que, infelizmente, é comum na Serra Gaúcha. É difícil trabalhar lá. Isso não aconteceu só comigo. É frequente. Até mesmo com pessoas que não são negras, mas têm a pele um pouco mais escura", afirma o árbitro de 37 anos, formado em Educação Física.

Bananas foram encontradas no carro do árbitro
Ele já havia sido vítima de ofensas racistas em dois episódios. Em 2005, sofreu os mesmos xingamentos no jogo Encantado x Caxias, no Estádio Centenário. Na época, o técnico Danilo Mior, do Encantado, o chamou de "negrão coitado". Márcio relatou o fato na súmula e Danilo acabou suspenso por 60 dias. Em 2006, o goleiro do Esporte Clube Cruzeiro saiu de campo algemado depois de ter chamado o árbitro de "macaco ladrão". O atleta respondeu ao processo, mas a pena foi transformada no pagamento de cestas básicas. "As pessoas não imaginam como uma ofensa racista é danosa", diz Márcio.
Por causa do julgamento desta quinta, cercado de grande expectativa em Porto Alegre, Márcio Chagas não vai participar de uma audiência com a presidente Dilma Rousseff e o ministro Aldo Rebelo para homenagear esportistas negros. O volante Tinga, do Cruzeiro, estará presente por ter sofrido racismo na partida contra o Real Garcilaso, em fevereiro, no Peru. Arouca, do Santos, chamado de "macaco" na goleada sobre o Mogi Mirim por 5 a 2, na semana passada, foi convidado, mas não participará do evento por causa de compromissos pessoais em Santos.
Por causa das ofensas ao jogador do Santos, o Mogi Mirim foi denunciado na quarta pelo Tribunal de Justiça Desportiva e corre o risco de perder três pontos e até ser excluído da competição - as mesmas penalidades previstas para o Esportivo pelas ofensas ao árbitro Márcio Chegas. O julgamento será na segunda-feira.
 
 
Fonte/Agência Estado

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