A partir da próxima semana, dia 14, a bola volta a rolar nos gramados cearenses. E mais uma vez, os torcedores e adeptos da famosa cervejinha vão padecer sem a bebida. Proibida há quase sete anos, a venda de bebidas alcoólicas nos estádios só foi liberada temporariamente durante a Copa das Confederações e a Copa do Mundo.
Minas Gerais foi o primeiro Estado do Brasil a proibir a venda. A origem foi um Termo de Ajustamento de Conduta assinado entre Conselho Nacional dos Procuradores Gerais do Ministério Público dos Estados e a CBF, em 2008.
Dois anos depois, houve a inclusão da proibição no Estatuto do Torcedor. O Artigo 13, Parágrafo II determina: “não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”
O Procurador de Justiça mineiro, José Antônio Baeta, um dos mais ferrenhos defensores da proibição, alega que, após a restrição, a violência nos estádios em Minas caiu em mais de 70%. Reduziram-se os atendimentos na enfermaria. Foi preciso aumentar o efetivo da polícia feminina, em função da presença de crianças e mulheres nos jogos.
O que mais me impressiona em toda essa incrível restrição é esse argumento de que o álcool pode provocar o torcedor a ficar mais violento, com isso, causar brigas, tumultos etc.
Estudo publicado na Inglaterra por Geoff Pearson e Arianna Sale em 2011 (PEARSON & SALE “‘On the Lash': revisiting the effectiveness of alcohol controls at football matches” in: Policing & Society, Vol. 21, No. 2, June 2011.) indica que a restrição à bebida alcoólica nos estádios não é o fator determinante para a redução dos índices de violência.
O estudo, inclusive, elenca os problemas causados pela proibição. O projeto durou quinze anos com pesquisas e entrevistas com autoridades policiais do Reino Unido e da Itália e torcidas inglesas.
1) Os torcedores aumentam a quantidade ingerida de bebida antes de entrar no estádio e passam a ingerir bebidas mais fortes;
2) Entram no estádio em cima da hora do jogo, dificultando o esquema de segurança e gerando tumulto;
3) Os torcedores se concentram nos bares arredores, aumentando a chance de encontro entre torcedores rivais, em espaços sem esquemas de segurança.
5) Concentra a entrada do público em cima da hora do jogo, gerando: Aumento de filas; Aumento de catracas utilizadas; Aumento de custos; Aumento de tumulto e violência no acesso ao Estádio;
6) Estádio perde receita (restaurantes, lojas, eventos antes do jogo…);
7) Torcedor consome ainda mais bebida, com maior velocidade, inclusive bebidas quentes, sabendo que a bebida é proibida dentro do estádio;
8) Pessoas circulando na rua, dificultando o tráfego e o acesso ao estádio
O até então ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ano passado, defendeu publicamente a venda de bebida alcoólica com os seguintes argumentos.
“Não vejo sentido em proibir dentro dos estádios, em recinto privado, algo que as pessoas fazem legalmente e publicamente nos bares e restaurantes ou privadamente em suas casas. A comercialização de bebidas nos estádios diz respeito à liberdade das pessoas que frequentam. Num dia tem um jogo do Grêmio e do Internacional, e não pode vender bebida. No outro dia tem um show da Madonna e pode vender qualquer bebida. Eu acho uma coisa inexplicável”, afirma, Rebelo.
Os mais exaltados defensores da venda de bebidas lembram logo da Copa do Mundo, que foi permitida a comercialização. Se tivesse sido proibida, o sucesso de público teria sido o mesmo? Teria havido menos brigas? Menos confusões? Menos tumultos?
Impossível saber. Até porque, o Mundial foi um sucesso absoluto e raríssimas foram as notícias de “alguém preso causando baderna ou brigando ou na enfermaria por ter ingerido em excesso bebida alcoólica”
Que tal os legisladores criarem ou mudarem essa regra de proibir a venda dentro dos Estádios para ser permitida a comercialização de bebida alcoólica apenas antes do jogo e durante o intervalo da partida?
Seria interessante e bem bacana que os copos plásticos (no melhor estilo Copa do Mundo) fossem personalizados com os escudos dos times das partidas para o torcedor comprar e guardar.
Os bares poderiam fazer promoções, brincadeiras (acerte o lixo na cesta) e ainda vender produtos oficiais do time mandante por um preço mais chamativo, que provocasse o torcedor a consumir e ajudar o clube do coração.
Existem muitas outras ideias, bem mais criativas, que poderiam alavancar o público nos estádios e contribuir para aumentar a receita dos clubes.
Para finalizar, o Estatuto do Torcedor proíbe tanta coisa, mas não há rigidez das autoridades para outros pontos da Lei, que é difícil de acreditar o porquê de só a bebida alcoólica ter virado a grande vilã do futebol brasileiro.
Fonte/DiáriodoNordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário