quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Hoje, ele luta contra o preconceito para brilhar no futebol


O médico lhe deu 15 dias de vida
Hoje, ele luta contra o preconceito para brilhar no futebol
Espnbrasil
A vida nunca foi fácil para Leandro Thomas Batista da Silva.Durante o parto, o cordão umbilical se enrolou em seu rosto, que nasceu aberto, com traumas graves nos ossos da face.
Os médicos lhe deram 15 dias de vida.
30 anos - e 10 cirurgias - depois, Léo Olinda, como é conhecido, segue desafiando a medicina.
O meia é um dos integrantes do elenco do River-PI, semifinalista da Série D, mesmo com apenas 1,66m e um corpo franzino de 58kg.
Tudo compensado por uma vontade incrível de mostrar seu melhor.
Com o rosto cheio de marcas das operações, o pernambucano de Olinda hoje luta contra o preconceito para brilhar em campo.
E agradece à mãe, dona Amara, pela luta para que ele pudesse viver.
Esse é seu depoimento aoESPN.com.br:
Eu nasci com o cordão umbilical rachado na face. Com isso, meu rosto ficou aberto dos dois lados. De lá pra cá, até os 19 anos, foram mais de 10 cirurgias para que ficasse do jeito que está. Eu ainda precisava ter feito mais duas operações depois, mas não quis.
Minha mãe acha que isso aconteceu porque, quando ela estava grávida, um cara bêbado caiu em cima dela com a bicicleta enquanto ela estava sentada na calçada lá em Olinda.
Depois que eu nasci, os médicos disseram para minha mãe que eu tinha apenas 15 dias de vida, devido ao agravamento do problema. Mas, mesmo quando escutou isso, ela não deixou de acreditar em mim. Ela tem muita fé em Deus, mas não tem uma religião fixa.
Quando eu era criança, lembro que quase todos os dias estávamos no médico. Ela nunca deixou de me acompanhar em todas as internações, ia sempre às consultas, exames e cirurgias... Sempre estava ao meu lado. Ela batalhou muito para procurar médicos que pudessem tratar o meu problema.
Minha mãe se chama Amara e é minha guerreira. Está feliz demais e muito orgulhosa de mim. Ela foi uma pessoa que nunca desistiu. Se ela não tivesse tanta garra, eu não estaria hoje dando esta entrevista para você. Tudo o que eu sou devo a ela.
Aos trancos e barrancos, sempre passando por cirurgias, eu fui seguindo a minha vida.
Quando terminei o segundo grau, eu estudava em colégio do Estado. Mas no colegial eu consegui uma bolsa e estudei no Santa Helena, um colégio particular, porque era bom de bola (risos). Ganhei vários títulos com eles e nunca perdi ano, ia bem dentro do campo e na aula.
No começo foi bem complicado, achei que não iam me aceitar pela origem humilde e pela minha aparência. Mas eu sou um cara que brinca e tem amizade com todo mundo, e em menos de uma semana já estava completamente adaptado, mesmo com um pessoal que não era da minha realidade.
Eu nunca desanimei, algumas vezes eu ainda nem tinha noção do que estava passando, mas sempre achava que ia dar tudo certo. Só que, quando eu completei 18 anos, tive que passar por uma cirurgia que me deixou com muito medo.
Eu achei que fosse morrer.

Cheguei a me despedir da família e dos amigos caso eu não voltasse. Essa cirurgia foi muito mais complicada do que as outras, pois foi feito um enxerto ósseo. Teve que abrir o rosto todo, entrei na sala de operação às 8h da manhã e sai às 17h30. Como o processo era muito longo, havia risco de morte, mas deu tudo certo e estou aqui, firme e forte.
Desde pequeno, eu sempre joguei bola. Meu primeiro time foi o América de Recife, passei pelo Cabense e depois fui pro Íbis. Eu fui artilheiro da segunda divisão de Pernambuco, quase conseguimos o acesso para a primeira divisão!
Na minha época, tínhamos um grande time, mas perdemos na última partida por 1 a 0. Era um grupo muito sério que estava lá e não tinha nada daquelas histórias de pior time do mundo para a gente (risos).
Depois disso, rodei por muitos times do Nordeste até chegar ao River do Piauí, no começo desse ano.
Nosso acesso à Série C foi muito difícil, pois sofremos demais com salários atrasados. Sorte que nossas famílias nos ajudaram. Mas soubemos sustentar bem tudo isso com nosso grupo, jamais tirou nosso foco no campeonato. O presidente do River é um cara que eu nunca vi na minha vida. Tudo o que ele prometeu, cumpriu. É um cara sincero, mesmo quando tivemos três meses de salários atrasados. Ele sempre foi sincero conosco e nunca nos abandonou, aí o resultado veio. Agora só falta mais um jogo para chegarmos à final.
A maior dificuldade que sempre encontrei na carreira foram as faltas de oportunidades. Sempre foi muito difícil para mim mostrar meu trabalho e meu potencial.
Acredito que sempre tenha existido preconceito envolvido nisso.
O preconceito existe em toda parte, ainda mais comigo, porque acham que sou diferente. Geralmente, no mundo do futebol, até mesmo na rua, as pessoas me olham de forma diferente, sim, meio torta.

Quando vamos jogar fora de casa, muitos torcedores ficam me xingando, isso é muito triste. Até mesmo na minha vinda para o River, logo antes de chegar, vi no site vários torcedores me xingando e perguntando o que eu vinha fazer aqui...
Eu não sou pior nem melhor do que ninguém, sou uma pessoa como qualquer outra. Mas eu consegui vencer tudo isso, fui campeão estadual, consegui o acesso para a Série C e vou ser campeão, se Deus quiser, da Série D.
Durante a vida, sempre tive que fazer mais do que os outros, provar meu valor o tempo todo, pelo fato das pessoas acharem que sou diferente. Sempre batalhei para ter um diferencial como jogador, me esforçava mais do que os outros.
Hoje, me considero um cara feliz e realizado.
Sou casado e tenho dois filhos: Kauã, de quatro anos, e o Ryan, que tem dois. Eu tinha só duas semanas de vida estou perto dos 30 anos!
Não tenho o que falar... É só agradecer a Deus por todas as oportunidades que ele me deu e vem me dando nesse caminho.

Eu não posso me queixar de nada.
Fonte/FutebolMT

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