Deputado e ex-jogador Jardel é afastado da Assembleia do RS por corrupção
Há indícios de crimes como concussão, peculato, falsidade documental, lavagem de dinheiro e organização criminosa
O Ministério
Público do Rio Grande do Sul obteve na Justiça uma ordem de suspensão do
exercício da função pública contra o deputado estadual Mário Jardel
(PSD), válida por 180 dias. Uma investigação do MP encontrou uma série
de irregularidades no mandato do ex-jogador de futebol do Grêmio e da
seleção brasileira. Há indícios de crimes como concussão, peculato,
falsidade documental, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A
operação foi batizada de Gol Contra.
Na manhã
desta segunda-feira, 30, Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco) cumpre mandados de busca e apreensão no gabinete de
Jardel na Assembleia Legislativa, assim como nas residências dele, da
mãe e do irmão. Também são alvo da operação as casas do chefe de
gabinete do deputado, Roger Antônio Foresta, e das assessoras fantasmas
Ana Bela Menezes Nunes e Flávia Nascimento Feitosa.
As
investigações do MP, coordenadas pelo Promotor de Justiça Flávio
Duarte, concluíram que existe uma estrutura criminosa instalada na
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, tendo Jardel como maior
beneficiário. O advogado Christian Vontobel Miller, que é assessor do
parlamentar, seria um dos mentores do esquema.
A
lista de irregularidades é grande. A investigação do MP indicou que o
deputado exigia uma parte dos salários de todos os assessores nomeados
em seu gabinete, para aumentar a sua própria renda. A quantia retida de
cada um era de, no mínimo, R$ 3 mil.
De acordo
com o MP, em novembro o aluguel da casa da mãe e do irmão de Jardel
atrasou cinco dias e o deputado ordenou que um dos assessores fizesse o
pagamento imediato. Ele pagou com cheque pré-datado e cobrou diárias
fictícias para o ressarcimento do dinheiro. No pedido de suspensão do
exercício da função pública entregue ao Tribunal de Justiça, o
procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, ressalta que as
investigações demonstram o "exagerado apego" do deputado estadual Mário
Jardel "a toda e qualquer possibilidade de lucrar às custas dos
servidores comissionados e, de modo indireto, do erário".
Também
há indícios de fraude de diárias de viagem e valores de indenização
veicular. O MP citou, por exemplo, um deslocamento feito para o
município gaúcho de Santo Augusto, entre 30 de outubro e 2 de novembro.
Os documentos apresentados para o Parlamento apontam que Jardel,
acompanhado de um assessor, visitou a Apae da cidade e participou de
cultos na Igreja Assembleia de Deus, além de encontros com a comunidade
local para o recebimento de demandas. Para a viagem, foi destinado R$
1.766,67 para Jardel e R$ 961,67 para o assessor. Só que, na verdade,
Jardel retornou para Porto Alegre um dia antes.
Outro
registro aponta que entre 14 e 17 de agosto, um assessor de Jardel -
que é médico formado no Uruguai - viajou para Cuiabá supostamente para
tratar do projeto para um banco de sangue virtual. No entanto, ele foi
ao local para uma prova do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas
Médicos (Revalida), do Ministério da Educação, que valida diplomas
obtidos no exterior. Além de R$ 1.433,67 de diárias fora do Estado,
foram pagas as passagens aéreas.
Situação
semelhante ocorreu em relação a uma viagem feita à Fortaleza, terra
natal de Jardel. Entre 17 e 19 de junho, o advogado e assessor Christian
Vontobel Miller foi até a capital cearense para tratar de um processo
ao qual o deputado responde pelo não pagamento de pensão alimentícia a
uma filha. Só que a justificativa para o pagamento de diárias, no valor
de R$ 1.024 05, foi de que iria tratar de projetos na área do esporte.
Histórico
Em
abril, Jardel já havia causado polêmica ao exonerar seu gabinete na
Assembleia Legislativa e se afastar temporariamente de suas funções, sob
justificativa de uma depressão. Na época, o ex-jogador, que é o único
deputado estadual do PSD, disse que estava incomodado com a atitude dos
servidores ligados ao seu gabinete, que segundo ele tinham o hábito de
tomar decisões sem consultá-lo. Jardel foi eleito no ano passado com
41.227 votos.
O presidente da Assembleia
Legislativa do RS, Edson Brum (PMDB), disse no final da manhã desta
segunda que a Casa está apoiando a ação do MP. De acordo com Brum, a
maior parte das pessoas trabalha com honestidade e responsabilidade e,
se alguém prática desvios, tem que pagar a conta.
Fonte/DiáriodePernambuco
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