Beto Santos caminhou até a sala da presidência, mas não quis sentar na cadeira - só por uma questão temporal. Apesar de eleito, ainda não tomou posse no principal cargo do clube. Talvez fosse até alguma regra imposta internamente. Ou apenas respeito. “Aquela ainda pertence a Hermano [Morais]”, apontou, referindo-se ao atual mandatário americano. Daqui a um mês, pertencerá a ele – e trará consigo uma nova missão.
 
O ambiente, na verdade, não é nada incomum à vida do novo dirigente. Ele é filho de Jussier Santos, que foi mandatário do Dragão por duas vezes entre as décadas de 1980 e 1990. Pelos corredores do clube da Rodrigues Alves já conhece praticamente tudo, mas nunca passou sequer por um cargo diretivo no clube. A primeira função do empresário Beto Santos no América será exatamente na presidência. 
 
“O que eu digo agora é: vamos esperar as atitudes. Julgar simplesmente por julgar eu acho que nenhuma pessoa merece. Temos que julgar não só pelo que elas falam, mas pelas atitudes”, avalia.
 
O discurso de Beto Santos segue esse padrão. Ele se mostrou centrado e se expressou sempre de maneira eloquente na entrevista que concedeu à reportagem do NOVO na sexta-feira passada. É o seu perfil. Até quando o assunto tratado foi o tempo de torcedor nas arquibancadas, Beto tratou de metas futuras à frente do Dragão. Apesar disso, também se mostrou um romântico ao falar de ex-jogadores e do antigo Castelão lotado - uma memória que ele quer reviver na Arena das Dunas.
 
Ele se diz ciente do momento crítico do clube e já tem participado das novas decisões. E da principal missão: levar o América de volta à Série B. Aliado a isso, acredita em pontos fundamentais na administração: manter a responsabilidade financeira, trazer mais sócio-torcedores e valorizar as categorias de base.
 
Sem compromissos oficiais até o Campeonato Potiguar do próximo ano, o Dragão vive uma situação financeira pior até do que esperava para esta temporada. E 2016 promete ser um ano ainda mais complicado nesse sentido. 
 
“O América é um paciente em UTI em franca recuperação, precisando de um remédio pra ir para o apartamento. Esse medicamento, no mundo real, chama-se dinheiro. Os patrocínios serão muito difíceis em 2016, já que será nosso segundo ano consecutivo na Série C”, explica Beto Santos.
 
Apesar disso, o novo mandatário alivia quanto aos valores, mas acredita que é preciso cuidado para evitar mais dívidas. 
 
“A dívida existente hoje no América é completamente ‘pagável’. O que nós não podemos é aumentá-la. O momento é de estancar essa sangria e fazer o planejamento pra 2016. Fazer um time competitivo, mas sem colocar o emocional à frente do racional. Colocar o América no local devido sem comprometer as finanças”, destacou.
 
 
Futebol alinhado
 
Enquanto as diretorias são definidas, o novo presidente do América quer evitar falar em nomes, ao menos por enquanto, que trabalharão diretamente no vestiário. O novo treinador e o executivo de futebol devem ser os últimos degraus dessa escada que ainda está em processo de construção. Beto Santos, no entanto, não descartou – nem confirmou - o nome do ex-técnico Ferdinando Teixeira para a função de executivo de futebol, como foi especulado. 
 
O dirigente admitiu ainda que o nome do treinador Flávio Araújo, que passou pelo Dragão em 2011, foi lembrado pela diretoria para assumir o comando na próxima temporada. 
“O nome de Flávio foi colocado não por uma preferência, mas por ser o de um profissional que precise estar alinhado com o América. Ele já passou pelo clube, inclusive com um acesso à Série B, e foi um nome que foi lembrado, porque nosso principal objetivo neste ano é voltar à Segunda Divisão”, citou.  
 
Os nomes ainda serão estudados até o meio de dezembro, quando a diretoria pretende estar com tudo nos eixos para a próxima temporada. Uma coisa, no entanto, é certa: todos esses profissionais precisarão estar alinhados quanto à situação de caixa do América. 
 
“Esse profissional deverá chegar e entender que nós não faremos nada que o clube não possa em termos de investimentos. Tudo será pautado em cima de receitas e despesas. Esse profissional chegará ao América sabendo das limitações financeiras do clube. Qual o orçamento que ele vai ter”, explicou o dirigente sobre o novo treinador. 
 
Beto Santos garante que jogadores com salários mais elevados podem até ser contratados, mas apenas se o orçamento for favorável. “Nós não vamos aqui dizer que não vamos trazer A ou B ou X. O caso é que nós vamos ter um orçamento. E nesse orçamento tem que caber essas peças. É um quebra-cabeça. Vai ter peça grande, pequena e nós vamos encaixar. O que não vai poder é sobrar peça”, disse.
 
 
 
Candidatura à Prefeitura Municipal descartada, pelo menos por enquanto 
 
Quando teve o nome indicado para a presidência do América, uma especulação se formou quanto à figura de Beto Santos: ele seria um dos pré-candidatos à Prefeitura de Natal no próximo ano. Questionado pela reportagem, o dirigente acenou que a informação não era verídica e se mostrou surpreso. 
 
“Eu escutei falar pela imprensa. E de pronto eu coloquei minha surpresa. Não sabia disso e de pronto eu respondo: não tenho espaço para um quarto projeto na minha vida. Meu nível de competência é este: estar à frente das minhas empresas, estar prestando meus serviços ao Estado com a Companhia Potiguar de Gás e estar à frente desse novo desafio que é o América, além da minha vida pessoal”, declarou. Com a pergunta reiterada, frisou: “Não existe espaço para um quarto projeto na minha vida neste momento”. 
 
Pelo menos o projeto América, ele não tocará de maneira solitária. Segundo ele, trazer o pai, Jussier Santos, para perto será uma vantagem. 
 
“É um parceiro que eu tenho. Um grande amigo. Sem dúvida alguma ele vai estar junto comigo na gestão. Não se faz o futuro sem se conhecer o passado. Esse passado do qual ele faz parte do América, esse presente do qual ele faz parte do América, eu nasci e cresci participando. A participação dele será fundamental, mesmo que sem cargo”, garante.
 
Beto também não teme carregar a sombra do pai. “Espero desempenhar junto com a equipe uma gestão vitoriosa. Isso é uma questão de futuro. A questão da vaidade não passa pela minha cabeça no momento”, garante.
Fonte/NovoJornal