Rubens Guilherme Dantas vai sair do ABC mais pobre - ou menos rico - do que quando entrou. No Alvinegro, apesar de não falar em valores, depositou dinheiro equivalente a uns bons carregamentos de medicamentos vendidos em sua rede de farmácias, que por algum tempo andaram órfãs em virtude de sua dificuldade de conciliar a rotina de presidente-torcedor com a de líder de um grupo que emprega quase 500 pessoas. 
Hoje, vive ainda o misto de sentimentos que o acompanha desde o início de gestão, em 2010. Por vezes acha que vai pisar nem na calçada do clube. Por outras, já conta os dias para ver passar o pesadelo da luta contra o rebaixamento à Série C para torcer - agora só como torcedor mesmo - por dias melhores na Rota do Sol. 
 
“Eu fiz algumas loucuras, sim. A paixão cega, e minha paixão pelo ABC realmente me cegou em alguns momentos, mas eu não me arrependo. O que eu fiz, fiz por amor”, diz o hoje presidente licenciado do ABC Futebol Clube, que em 2015 comemora - ou deveria ter festejado - seu primeiro centenário. 
Afastado da presidência, e ocupando o cargo de diretor de futebol, Rubens Guilherme é o homem mais amado e odiado do Complexo Sócio-Esportivo Vicente Farache. 
 
Lá estão os troféus dos títulos estaduais conquistados na sua gestão, do vice-campeonato regional obtido no retorno da Copa do Nordeste ao calendário nacional e do mais importante feito abecedista em 100 anos: a Série C do Campeonato Brasileiro de 2010.  Todavia, também é lá onde boa parte da torcida pede que não tarde o fim de seus dias à frente das decisões do clube. 
 
 
2015, um ano em que tudo deu errado nas quatro linhas
 
“No futebol você não consegue manter o time funcionando como você quer e planeja. Esse ano nós iniciamos bem, ganhamos o segundo bem, levamos só um gol no segundo turno, mas perdemos o Estadual -  um dos campeonatos mais ganhos que já vi. Naquele momento o grupo perdeu a confiança e não tivemos mais sucesso”. 
 
É assim que Rubens resume o 2015 do ABC. Como dirigente e como torcedor, não conseguiu ver seu time ter sucesso no planejamento que fora planejado: ser campeão estadual e brigar pelo acesso à Série A em pleno ano do centenário. 
 
Acredita até que “algo sobrenatural” possa ter interferido, citando partidas em que o Alvinegro até foi melhor em campo e não saiu vitorioso dos embates. 
 
E diz ter se sentido de mãos atadas durante boa parte da temporada. “Nós não jogamos dentro de campo. Nós damos condições para que os atletas joguem. Mas esse foi o ano que não deu certo. E o ABC não foi o primeiro nem vai ser o último clube onde vai acontecer isso”, comenta. 
 
Em silêncio,  alvo constante da ‘oposição sistemática’
 
É difícil falar com Rubens Guilherme. O NOVO que o diga. Tanto que seria impossível transcrever para estas linhas tudo o que foi conversado na tarde de sexta-feira passada na sede do jornal - a entrevista completa, com direito a  perguntas sobre dívidas, ex-dirigentes e contratações polêmicas, está disponível em vídeo: 
 
 
Mas o silêncio que incomoda parece ser uma ferramenta. É com ele que Rubens tem aguentado a forte oposição que enfrenta de boa parte do Conselho Deliberativo e da torcida abecedista. E é com ele que pretende andar quando deixar o clube. “Quando sair, vou me comportar como um ex-presidente”, promete, dando a entender que não pretende ficar rememorando velhos assuntos ou dando pitaco na gestão futura. 
 
Rubens classifica sua oposição como “sistemática” e prejudicial ao clube. “A oposição quando é feita de uma forma propositiva é boa, mas quando se beneficia da situação ruim, não. Não entendo como uma pessoa que se diz abecedista pode querer que aconteça algo ruim para que ela possa lograr êxito em seus projetos pessoais dentro do clube”, dispara. “Existe uma oposição feita de forma sistemática contra o clube, que realmente nos atrapalhou muito”.
Fonte/NovoJornal