segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Fim de carreira



O apelido "The King" (do inglês, "O Rei") não é à toa. Emanuel carrega na bagagem quase todos os títulos possíveis no vôlei de praia. Chegou mais de 150 vezes na carreira ao lugar mais alto do pódio. Pendurou no peito a medalha de ouro das Olimpíadas de 2004, em Atenas, ao lado de Ricardo, com quem formou uma das duplas mais vitoriosas da história. Só que após mais de duas décadas dedicadas às areias, chegou a hora de parar. Prestes a completar 43 anos em abril, Emanuel vai se aposentar, e a despedida será no Grand Slam do Rio de Janeiro, na próxima semana. Referência para muitos, ele deixa um legado de respeito. Agora, vai desempenhar novos papéis, como ser a voz dos jogadores junto à presidência da comissão de atletas do Comitê Olímpico do Brasil e da comissão nacional de atletas do Ministério dos Esportes

- Chegou a hora de dizer: "agora, eu não jogo mais". A decisão está tomada. Os momentos passam em nossa cabeça. As areias sempre foram o meu lugar de conforto - revelou Emanuel, em entrevista exclusiva ao Jornal Nacional.
Emanuel na conquista do ouro em Atenas 2004 (Foto: Robert Laberge / Getty Images)Emanuel na conquista do ouro em Atenas 2004 (Foto: Robert Laberge / Getty Images)


Ricardo, o atual parceiro, prevê dias muito especiais durante a etapa carioca do Circuito Mundial.  E uma série de reverências àquele com quem formou dupla por 10 anos no total.
- Tem que ser. Ele é o maior vencedor de todos. É o nosso herói no vôlei praia. Ele merece todas as homenagens possíveis. Acho que isso é o mínimo que nós atletas, a Confederação (Brasileira de Voleibol), a torcida pode fazer pelo maior atleta de todos os tempos - comentou Ricardo.
ricardo, vôlei de praia (Foto: Lucas Barros / GloboEsporte.com/pb)Ricardo ficou emocionado ao falar sobre Emanuel
(Foto: Lucas Barros / GloboEsporte.com/pb)
Para o baiano, o vôlei de praia vai sentir muita falta do amigo, que marcou seu nome na história da modalidade.

- Receber uma notícia como essa é muito marcante. Principalmente de uma pessoa muito especial para minha carreira, como amigo, companheiro, parceiro. É aquele atleta que tem que ser copiado pela determinação, pelo profissionalismo, pela dedicação. Vai ser um momento especial para todos, e espero que muitos que estejam surgindo nessa nova safra possam tê-lo como referência - disse, emocionado.

Emanuel esteve em todas as edições dos Jogos Olímpicos que contaram com o vôlei de praia. Foram cinco: Atlanta 1996, Sidney 2000, Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012, conquistando três medalhas - ouro, prata e bronze.

Na primeira vez, em Atlanta, nos Estados Unidos, ainda sem tanta experiência, Emanuel jogou ao lado de Zé Marco e encerrou a disputa em nono lugar. Logo depois em Sidney, na Austrália, formou dupla com Loiola e acabou caindo nas oitavas de final.

Em Atenas, o ápice. Com Ricardo, Emanuel conseguiu a única medalha de ouro da história do vôlei de praia masculino na competição até aqui. O feito foi em cima dos espanhóis Bosma e Herrera.

Na China, Emanuel seguiu lado a lado com Ricardo, e a dupla trouxe o bronze. Já em Londres, o paranaense iniciou um novo ciclo, formando parceria com Alison. Lá, conseguiu sua última medalha olímpica, de prata.
Pódio, Vôlei  Masculo, Emanuel e Alison, Faixa Fora Patricia Amorim (Foto: Agência Reuters)Emanuel e Alison no pódio após a prata em Londres (Foto: Agência Reuters)


Após uma década da medalha de ouro em Atenas, Emanuel reatou a parceria com Ricardo, de olho nas Olimpíadas do Rio. Seria o momento perfeito para encerrar a carreira com chave de ouro durante uma disputa de alto nível em casa. Mas os dois não conseguiram ficar entre as duas melhores duplas do Brasil na temporada 2015 do Circuito Mundial, e as vagas acabaram com Pedro Solberg/Evandro e Alison/Bruno Schmidt.
- É muito duro ficar fora das Olimpíadas no nosso país, principalmente, pela história que construi. Mas confesso que lutei, lutei bastante - afirmou Emanuel.

Além das medalhas olímpicas, Emanuel foi 10 vezes campeão do Circuito Mundial e venceu o Campeonato Mundial, espécie de Copa do Mundo, em três temporadas (1999, 2003 e 2011).

Além de todos esses feitos, conseguiu também por nove vezes o título do Circuito Brasileiro (1994, 1995, 2001, 2002, 2003, 2006, 2008, 2011 e 2014/2015), foi medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007 e 2011, bronze nos Jogos Sul-Americanos de 2014, tricampeão do Rei da Praia (2004, 2005 e 2008), melhor jogador do Circuito Mundial de 2006 e 2011 e do Brasileiro em 2003, 2004, 2008 e 2010.
vôlei de praia, Emanuel (Foto: Paulo Frank / CBV)Emanuel vai se despedir do vôlei de praia aos 42 anos (Foto: Paulo Frank / CBV)
Emanuel é pai de Mateus, de 18 anos, e Lucas, de cinco. O filho, inclusive, vai seguindo os passos dele. Em 2015, Mateus treinou no time juvenil de vôlei de quadra do Flamengo e foi campeão estadual. Ele seguiu no elenco da Superliga B, como líbero, e já se aventurou no vôlei de praia.
O INÍCIO
Emanuel, Zé Marco e Giovanni Marques, vôlei de praia (Foto: Arquivo CBV)Emanuel com Giovanni Marques (diretor de vôlei de praia da Federação Paraibana de Voleibol) e Zé Marco no início da carreira (Foto: Arquivo CBV)
Emanuel Fernando Scheffer Rego nasceu em Curitiba no dia 15 de abril de 1973. A carreira dele iniciou 18 anos depois no vôlei indoor, jogando pelo Curitibano. Em 1991, começou a fazer paralelamente o vôlei de praia, onde decidiu optar definitivamente.

Quando dava os primeiros passos, ele sempre tinha uma hábito. Assim como Zico, que ficava depois das atividades batendo faltas para aprimorar a técnica, Emanuel fazia mais do que pediam o preparador físico e o técnico. 
Mas o paranaense começou a despontar mesmo em 1994. Ao lado de Aloísio, conquistou o Brasil Masters (naquela época, uma espécie de SuperPraia), contra os favoritos absolutos Franco e Roberto Lopes.
No ano em que ganhou o Brasil Masters, Emanuel treinava em Vitória, no Espírito Santo, com Aloísio. Mas o parceiro dele teve um problema de saúde, passou por uma cirurgia e precisou se afastar do esporte por um tempo. Ficou sem um companheiro de quadra, mas quis o destino que ele encontrasse uma dupla de peso em João Pessoa: Zé Marco, que atuava com Paulo Emílio e havia decidido jogar com Paulão.

Assim, Emanuel e Zé Marco formaram um time que se tornaria vencedor. Mas não sem esforço, suor e, claro, muita história para contar. Mesmo sendo um atleta promissor e já vencedor de quatro etapas no Circuito Brasileiro anteriormente, Emanuel precisou se desdobrar em João Pessoa. Ele dividia uma quitinete com o ex-jogador Ernesto Vogado, que hoje é técnico de Álvaro Filho/Vítor Felipe e George/Jô, e Gilmário Cajá, que viria a ser treinador dele e de Ricardo para o ciclo olímpico de Atenas. Ia para os treinos a pé ou de bicicleta.

Emanuel terminou campeão da temporada 1994 e 1995 com Zé Marco. Um ano depois, eles foram para as Olimpíadas de Atlanta e terminaram em nono lugar. Depois dali, Emanuel trilharia uma história marcante no vôlei de praia. 
O AUGE
O dia 25 de agosto de 2004 ficará marcado para sempre na memória de Emanuel. Nessa data, em Atenas, ele conquistou ao lado de Ricardo a única medalha de ouro do vôlei de praia masculino do Brasil nos Jogos Olímpicos.

Até chegar a decisão, a dupla teve que enfrentar um caminho longo e árduo, como ficar confinado com toda a comissão técnica (sob o comando dos paraibanos, o técnico Gilmário Cajá e o preparador físico Rossini Freire). Foram dois anos de preparação em João Pessoa e depois na Europa até chegar à Grécia. Deu certo.
ricardo e emanuel, ricardo/emanuel, atenas, atenas 2004 (Foto: Divulgação)Ricardo e Emanuel foram medalha de ouro em Atenas 
PARCERIA VITORIOSA
Emanuel teve poucos parceiros nos 25 anos dedicados ao vôlei de praia: Aloísio, Zé Marco, Loiola, Tande, Ricardo, Alison, Pedro Solberg e novamente Ricardo. Juntos de 2002 a 2009, Ricardo e Emanuel foram campeões das principais competições da modalidade: além do ouro em Atenas, foram bronze nas Olimpíadas de Pequim 2008, ouro no Campeonato Mundial de 2003 e nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro (2007). Faturaram ainda três títulos do Circuito Brasileiro (2006/2003/2002) e cinco títulos do Circuito Mundial (2007/2006/2005/2004/2003).
Emanuel e Ricardo batem Pedro e Evandro no Circuito Brasileiro (Foto: Divulgação / CBV)Emanuel e Ricardo formaram uma das duplas mais vitoriosas da história do vôlei de praia (Foto: Divulgação / CBV)


Mais rodados, Ricardo e Emanuel decidiram reatar a dupla em agosto de 2014. O principal resultado foi o título da temporada 2014/15 do Circuito Brasileiro. Eles ainda tentaram uma vaga nos Jogos Olímpicos do Rio, mas não conseguiram.

No fim, quis o destino que Emanuel encerrasse a carreira com Ricardo. No Rio de Janeiro.
- Você conseguir passar para alguém tudo aquilo que passou na sua cabeça durante 20 anos e saber que aquela pessoa consegue fazer igual. Então, é uma satisfação ver a extensão do Emanuel em outras pessoas - concluiu.
PRINCIPAIS RESULTADOS
- Medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, prata em Londres 2012 e bronze em Pequim 2008
-Tricampeão mundial (1999, 2003 e 2011)
- Dez vezes campeão do Circuito Mundial (1996, 1997, 1999, 2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2011)
- Nove vezes campeão do Circuito Brasileiro (1994, 1995, 2001, 2002, 2003, 2006, 2008, 2011 e 2014/2015)
- Medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007 e 2011
- Medalha de bronze nos Jogos Sul-Americanos 2014
- Campeão da edição 2013 da Copa do Mundo
- Campeão da etapa de Contagem-MG do Circuito Brasileiro 2015/2016
- Vice-campeão do SuperPraia 2015, em Maceió
- Campeão das etapas de Vitória e Salvador do Circuito Brasileiro 2014/2015; vice-campeão das etapas de Niterói-RJ e Jaboatão dos Guararapes-PE; terceiro colocado das etapas de Fortaleza e João Pessoa
- Vice-campeão da etapa do Brasil do Circuito Mundial 2014; medalha de bronze na etapa de Haia, naHolanda
- Campeão das etapas de Recife, Guarujá, São José, Natal e João Pessoa do Circuito Brasileiro 2013/2014, vice no Rio de Janeiro e em Maceió e terceiro em Vitória
- Vice-campeão da etapa da Rússia do Circuito Mundial 2013
- Campeão da etapa de Cuiabá do Circuito Brasileiro 2012/2013, vice-campeão em Campinas e Curitiba e terceiro colocado em Fortaleza, João Pessoa e Maceió
- Campeão dos Grand Slams da Rússia e da Alemanha do Circuito Mundial 2012, vice-campeão dos Grand Slams da Itália e da Suíça e da etapa da República Tcheca e terceiro colocado no Grand Slam da China
- Campeão das etapas de João Pessoa e Fortaleza do Circuito Brasileiro 2012
- Campeão dos Grand Slams da China, da Suíça e da Rússia e da etapa da República Tcheca do Circuito Mundial 2011, vice-campeão no Brasil e terceiro colocado na Polônia
- Campeão das etapas de Santa Maria-RS e Recife do Circuito Brasileiro 2011, vice-campeão em Vitória, no Rio de Janeiro, em Salvador e Fortaleza e terceiro colocado no Guarujá-SP, em Balneário Camboriú-SC e João Pessoa
- Vice-campeão do Grand Slam da Itália e das etapas do Brasil e da República Tcheca do Circuito Mundial 2010 e terceiro colocado no Grand Slam da Áustria e das etapas da China e da Noruega
- Campeão das etapas de Campo Grande, Fortaleza, Maceió e Vila Velha-ES do Circuito Brasileiro 2010 e vice-campeão em Goiânia
- Campeão da etapa do Brasil do Circuito Mundial 2009 e vice-campeão dos Grand Slams da Suíça e da Rússia
- Terceiro colocado nas etapas de Curitiba, Fortaleza e Salvador do Circuito Brasileiro 2009
- Campeão do Torneio Desafio dos Reis em 2005 e 2008
prêmios individuais
- Tricampeão do Rei da Praia 2004/2005/2008
- Eleito o melhor jogador do Circuito Mundial 2006 e 2011
- Melhor jogador do Circuito Brasileiro em 2003, 2004, 2008 e 2010
- Jogador mais inspirador do Circuito Mundial em 2011, 2012 e 2015
- Eleito o esportista do ano do Circuito Mundial em 2005, 2010, 2011, 2012 e 2014
- Melhor recepção do Circuito Brasileiro 2008
- Melhor ataque do Circuito Mundial 2006
- Melhor atacante do Circuito Brasileiro em 1999, 2003, 2006 e 2013/2014
- Eleito pelo COB o melhor jogador de vôlei de praia do país em 2003, 2004 e 2011
- Eleito atleta da década de 90 pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB), ao lado de Loiola
Fonte/GloboEsporte

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