Será neste domingo, às 11h (de Brasília), a última prova do vestibular da seleção brasileira para a Copa América. O professor Dunga já aplicou sete avaliações e está atento a cada detalhe antes de aprovar os 23 melhores. Cada linha escrita, cada sílaba falada, alternativa correta, vai somar pontos na caminhada para disputar o primeiro torneio depois da Copa do Mundo.
A cartilha do técnico vem sendo passada desde agosto. Neste oitavo teste, contra o Chile, no estádio do Arsenal, em Londres, os alunos que mais frequentaram suas aulas já sabem de cor o que fazer para agradá-lo. Eles estão quase lá, com um pezinho e meio no Chile, que não é apenas o rival da vez, como também o país-sede da Copa América.
Resta aos outros, menos frequentes, garimparem um lugar na lista de chamada e se juntarem aos preferidos do treinador.
O técnico disse, no sábado, que não vai convocar atletas que não tenham jogado com ele nessa sua nova passagem pela Seleção. A seguir, algumas matérias que precisam estar na ponta da língua, do lápis e das chuteiras para que eles sejam aprovados.
Firmino se deu bem com Neymar e cumpriu instruções de Dunga: não ficar parado (Foto: Bruno Domingos / Mowa Press)
Dunga decretou o fim do camisa 9 “paradão”. Aquele que fica ali na região da meia-lua, como quem não quer nada, à espera de um cruzamento certeiro, um rebote, um erro do adversário. O companheiro de Neymar no ataque agora precisa ser ágil, abrir espaço, atuar pelas pontas, tabelar, criar alternativas para os companheiros. Diego Tardelli e Roberto Firmino despontam como favoritos. Eles são centroavantes, de repente não são mais, ora estão na ponta, ora recuam, fazem com que Neymar possa circular pelo campo, confundem a marcação. Luiz Adriano teve mais dificuldade de executar essas funções.
Filipe Luís jogou as sete partidas com Dunga no comando, sempre como titular (Foto: Mowa Press)
As individualidades não podem ser sobrepostas ao aspecto coletivo. Essa frase está na lousa de Dunga há meses. Ai de quem apagar. Filipe Luís, por exemplo, disse na véspera do jogo contra o Chile, com todas as letras:
– Não posso falar individualmente, só coletivamente.
Nenhum jogador pode estar acima da filosofia de trabalho, e ela não sucumbirá nem diante do maior craque – no caso, Neymar. É isso que prega o técnico e, não por coincidência, o lateral-esquerdo citado acima foi titular nos sete jogos disputados até agora. Na visão da comissão técnica, a dependência do atacante e o desespero dos companheiros ao se verem sem ele foram dois dos principais motivos do vexame na semifinal da Copa, o eterno 7x1 alemão.
Neymar comemora gol contra a França em vitória da Seleção por 3 a 1 na última quinta-feira (Foto: Getty Images)
Valorizar o drible, artigo em extinção no futebol brasileiro, talvez mundial, é outra premissa do professor. Talvez por isso ele esteja ainda mais encantado com Neymar, incentive o atrevimento de Firmino e tenha até dado nova chance para Marcelo se juntar ao grupo. Jogadores que desmontam uma defesa com arte têm, sim, espaço na sala de aula de Dunga. Como o contra-ataque é muito utilizado na equipe do treinador, o drible também torna-se um fator importante para que os jogadores cheguem rapidamente à área adversária.
Miranda, Seleção Brasileira (Foto: Bruno Domingos / Mowa Press)
Aquele aluno que é bom, talentoso, mas não tem muita vontade de ser o melhor da classe, não irá para a Copa América. Dunga já deixou claro, explícito, escancarado, que prefere um jogador vitorioso, determinado, obcecado por vitórias, do que o diferenciado-preguiçoso. O zagueiro Miranda, tricampeão brasileiro pelo São Paulo, campeão espanhol pelo Atlético de Madrid, desbancando os gigantes Barcelona e Real Madrid, é um bom exemplo. O sujeito cheira a títulos e também esteve em todas depois da Copa do Mundo. Questionado sobre a característica de Dunga que mais se reflete nele, não pensou duas vezes:
– A vontade de vencer.
Jefferson teve grande atuação contra a França: duas defesaças contra Benzema e Griezmann (Foto: Reuters)
Em 2007, Robinho conquistou o coração do treinador ao abrir mão das férias para disputar a Copa América. Não à toa, está até hoje no grupo. É quase um representante da classe, aquele no qual o professor confia plenamente. Vejam o goleiro Jefferson. Lesionou o dedo dias antes de partir rumo à Ásia com a Seleção para enfrentar Argentina e Japão. A comissão técnica até convocou Marcelo Grohe por precaução, mas o botafoguense viajou, se recuperou, jogou e pegou até pênalti de Messi. Por isso, mesmo depois de desfalcar o time pela ausência de atletas que atuam no país na lista de convocados, voltou como titular contra a França e fechou o gol. Dunga pensa assim: quem se sacrifica pela Seleção, merece estar nela.
Willian esteve em todos os jogos do Brasil após a Copa, e ajudou a bater a Áustria (Foto: Bruno Domingos / Mowa Press)
Willian e Oscar jogaram todas com Dunga, sempre como titulares. Isso não se deve apenas ao entrosamento da dupla do Chelsea. Contra a França, ambos compuseram a linha de marcação do meio-campo com exemplar “com-pro-me-ti-men-to”, aquela palavra que o professor costuma dizer com sílabas separadas e seu inconfundível sotaque gaúcho. Filipe Luís e Danilo também protegem as laterais, só atacam na boa, cumprem ordens à risca. Na visão do técnico, é preciso se comprometer dentro e fora de campo. Maicon, um de seus melhores alunos desde a primeira passagem, entre 2006 e 2010, atrasou-se na reapresentação entre o primeiro e o segundo jogos. Nunca mais voltou.
FICHA TÉCNICA
BRASIL: Jefferson, Danilo, Thiago Silva, Miranda e Marcelo; Luiz Gustavo, Fernandinho, Philippe Coutinho e Willian (Oscar); Neymar e Firmino (Luiz Adriano). Técnico: Dunga
CHILE: Bravo, Isla, Medel, Jara e Mena; Valdés, Pizarro e Aránguiz; Vidal; Vargas e Alexis Sánchez. Técnico: Jorge Sampaoli
Data: 29/03/2015
Horário: 11h (de Brasília)
Local: Arsenal Stadium, em Londres (ING)
Árbitro: Martin Atkinson (ING)
Auxiliares: Gary Beswick e John Brooks (ING)
Fonte/GloboEsporte